Capítulo 5

Capítulo 5 - As Batalhas: Perdendo ou Vencendo?



Quando chegaram ao hospital, Enzo e Daniel encontraram Pedro na sala de espera. O pai de Daniel, que tinha cerca de 40 anos, parecia muito mais velho e as suas vestes que estavam sempre em bom estado e alinhadas, estavam desarrumadas, o que conferia a ele uma imagem ainda pior. Ele pareceu não perceber a chegada dos jovens até que Daniel sentou ao lado dele e, agitadamente, perguntou:

- Pai...cadê a mamãe? como ela está? como isso aconteceu?
- Calma filho... - disse Pedro reunindo todas as suas forças para se manter calma na frente do filho - eu não sei como aconteceu...só sei que a sua mãe está em um estado muito grave! Ela está sendo operada agora mesmo, pra conter a hemorragia, averiguar os danos e estabilizar o quadro dela.
- Meu deus pai... a mamãe... - Daniel não conseguiu terminar a frase, pois um choro incontrolável irrompeu e ele se curvou, colocando as mãos no rosto e apoiando a cabeça nas pernas.
- Daniel...eu vou pegar algo pra tomares...pode ser água? - disse Enzo que até agora não tinha sido notado por Pedro.
- Pode ser...obrigado - disse Daniel tentando controlar o choro.
- Ah...oi Enzo...obrigado por acompanhar o Daniel... - disse Pedro ao notar o jovem, tentando ser o mais cordial possível frente às circunstancias.
- Não é nada Seu Pedro, eu sinto muito pela Dona Cássia...o senhor quer alguma coisa pra beber?
- Não meu filho...traz só a água para o Daniel e, muito obrigado novamente - Pedro respondeu a Enzo e, imediatamente, se voltou para seus próprios pensamento.
- Tudo bem, eu já volto então... - disse Enzo se dirigindo para a lanchonete do hospital.

Enzo não conhecia muito bem o hospital, por isso demorou algum tempo para ir até a lanchonete e reencontrar o local onde estavam Daniel e Pedro. Quando o rapaz chegou, Daniel já havia se recomposto, embora ainda demonstrasse uma grande aflição, o que era, absolutamente normal, visto que a mãe do rapaz já estava há mais de 2 horas na sala de operações e nenhum boletim médico havia sido dado. Ao sentar ao lado do namorado, Enzo disse:

- Aqui está a água. Estás melhor?
- Obrigado! Na medida do possível, sim...mas eu ainda não acredito que a minha mãe sofreu um acidente de carro e está sendo operada! Enzo, se acontecer alguma coisa com ela...eu nem sei...
- Calma Daniel - interrompeu Enzo - eu imagino o que deve estar passando pela tua cabeça, mas tenta não pensar no pior! Vamos só aguardar e ouvir os médicos quando a cirurgia terminar...talvez eles possam conseguir estabilizar o quadro dela e ela saia dessa sem nenhuma sequela! Mas nós precisamos ter paciência e, principalmente, fé! Além disso... - Enzo chegou mais perto de Daniel e sussurrou: - eu estou aqui com você! Eu não vou sair do seu lado, não se preocupe!
- Obrigado! Isso é muito importante!
- De nada! Eu só preciso ligar para os meus pais avisando...mas já volto!

A cirurgia de Cássia demorou 6 horas, durante as quais pouco houve diálogo entre os três homens esperando. Posteriormente, o médico veio dar o primeiro boletim sobre o quadro da mãe de Daniel: a mulher tinha sofrido politraumatismo, sofreu dano a órgãos internos e ainda estava inconsciente, entre outras complicações, porém, o quadro estava, momentaneamente estável, visto que a hemorragia tinha sido controlada. Além disso, o médico informou que ela ficaria na UTI em observação e seriam utilizados aparelhos para auxiliar na respiração, de modo que somente uma pessoa estava autorizada a entrar, brevemente, na sala para vê-la.
O pai de Daniel prontamente pediu para vê-la e, como o filho não ofereceu resistência, ele acompanhou o médico até a sala. Enquanto isso, os dois rapazes ficaram conversando:

- Viu?! O quadro está estável e eu tenho certeza que ela vai acordar logo! - disse Enzo tentando soar esperançoso.
- É...Deus queira amor! - disse Daniel incerto - Obrigado por ter vindo comigo! O meu pai tá um caco e eu precisava de alguém como você pra me dar força! Eu sempre penso logo no pior e você sempre diz a coisa certa pra me animar - ele tocou levemente a bochecha de Daniel com uma das mãos.
- Isso não é nada amor! É minha obrigação ficar aqui com você...na verdade obrigação dupla! Melhor amigo e namorado! - Enzo tentou soar brincalhão e riu.
- É verdade! - disse Daniel, que também riu, apesar das feições de preocupação - Bom...de qualquer jeito, muito obrigado mesmo! E...desculpa se eu não posso te tratar como eu devia com meu pai aqui! Deve estar sendo chato pra você não poder me consolar, apesar de ver como eu estou sofrendo!
- Eu já disse, não se preocupe com isso! - respondeu Enzo, prontamente - mas eu confesso que preferia te pegar nos meus braços e te consolar como um namorado...bom, mas eu entendo e posso me contentar com a "consolação de amigo".
- "consolação de amigo"? - Daniel riu - como é isso?
- Ah...não sei... - disse Enzo um pouco encabulado - algo do tipo: "vai ficar tudo bem", "força", "seja forte" ou "eu sinto muito"...sei lá! Coisas não necessariamente tão pessoais quanto eu dizer que eu sinto muito pela sua mãe ter sofrido um acidente e que eu vou estar aqui ao seu lado para o que for preciso, não porque eu me compadeço da sua dor, mas porque eu te amo e nunca vou querer te ver sofrendo! - Enzo baixou o olhar e depois olhou profundamente nos olhos de Daniel dizendo: - percebe a diferença?
- Percebo sim! - Daniel também olhou profundamente nos olhos de Enzo e deu um breve sorriso.

Antes que qualquer outra demonstração de amor fosse feita, o pai de Daniel voltou para a sala de espera, o que fez o rapaz se levantar da cadeira, indagando:

- E aí pai? O senhor viu ela? Como ela está?
- Vi sim filho - Pedro sentou e continuou falando - Nossa...ela está muito mal! O rosto dela está muito ferido e inchado e ela não me respondeu! Nós só podemos esperar e rezar pra que ela acorde!
- Poxa pai...como isso foi acontecer?! - exclamou Daniel.
- Não sei meu filho...não sei...
- Seu Pedro, o senhor não prefere ir pra casa trocar de roupa e descansar um pouco? - disse Enzo - Eu e o Daniel podemos ficar aqui aguardando e, se algo acontecer, a gente liga avisando.
- Acho que tens razão Enzo, eu preciso mesmo descansar e trocar essa roupa! - assentiu Pedro - Eu vou fazer isso mesmo! Muito obrigado de novo meu filho, estás sendo muito bom nos dando suporte nesse momento difícil!
- Imagina Seu Pedro, eu gosto muito da Dona Cássia e estou torcendo pra que ela consiga sair dessa!

Enquanto Pedro foi para casa fazer o que Enzo havia sugerido, os dois rapazes continuaram no hospital esperando atualizações no quadro de Cássia. De fato, novamente, não houve muito conversa entre eles, de modo que alternaram o tempo entre vigília e sono, até que, cerca de 5 horas da manhã Daniel foi avisado de que a sua mãe estava acordada e ele, prontamente, foi vê-la. Ao entrar no quarto ele avistou a mãe deitada e quando chegou próximo a ela ele, hesitantemente, disse:

- Mãe?
- O...oi...meu filho... - Cássia estava muito debilitada para falar, mas se esforçou.
- Que bom que você acordou! Eu já estava muito preocupado! Eu não sabia o que pensar... - ao perceber que estava aumentando o tom de voz, Daniel se recompôs e falou em um tom mais calmo - Você vai se recuperar logo mãe! A gente vai te levar pra casa tão logo a senhora já esteja boa, o que eu tenho certeza que vai ser em breve!
- Eu...te amo...fi...lho - disse Cássia com lágrimas nos olhos.
- Eu também te amo mãe! Eu não vou poder demorar, pois o médico disse que você precisa descansar, mas eu volto pra te ver mais tarde tá?! Ah...o Enzo também está aqui e ele também está torcendo pela sua melhora.

Cássia não respondeu, apenas piscou, então, Daniel percebeu que ela precisava descansar e se retirou do quarto. Quando encontrou Enzo na sala de espera o rapaz estava com feições bem mais leves e aparentava estar mais feliz. Assim que percebeu isso Enzo indagou:

- E aí? ela está melhor?
- Sim amor! - disse Daniel animado - ela ainda tá com dificuldades pra falar e aparenta estar bem debilitada, mas eu tenho certeza que ela vai melhorar!
- Que bom! - Enzo abraçou Daniel sem se preocupar com quem estivesse ao redor - Eu não te disse que ela ia sair dessa!
- Sim você disse! - Daniel afastou Enzo para poder olhar em seus olhos, então sorriu pra ele, beijou-o brevemente e depois continuou: - você sempre diz a coisa certa!

O beijo foi breve, mas demorou tempo suficiente para que Pedro, que estava chegando ao hospital naquele momento, pudesse ver. Porém, ele não comentou sobre isso quando se aproximou dos dois rapazes, de modo que estes ficaram alheios ao fato do pai de Daniel ter presenciado a cena.
No mesmo momento em que Pedro sentou na sala de estar Daniel contou as boas novas:

- Pai! Eu já ia te ligar, a mamãe acordou! Ela tentou falar comigo!
- O que ela disse meu filho? - Pedro pareceu mais vívido depois de escutar aquilo.
- Ela disse pouca coisa, porque ela ainda está muito debilitada, mas ela me reconheceu e disse que me amava! - Disse Daniel.
- Mas isso é muito bom meu filho! - disse Pedro animado - Quer dizer que ela não sofreu danos à memória e que já está se recuperando, considerando-se que ontem ela nem abriu os olhos.
- O fato dela estar consciente é um bom sinal! - disse Enzo, tentando participar da conversa.
- Ainda estás por aqui Enzo? - disse Pedro, voltando o olhar para o rapaz - Não tens aula? Acho que podes ir pra casa descansar, eu ficarei aqui!
- Tenho sim Seu Pedro, mas eu não me importo em ficar aqui com vocês!
- Eu insisto Enzo, talvez seja melhor ires pra casa! - Pedro assumiu um tom de voz ríspido, porém ponderou e continuou em um tom mais suave - Não quero abusar da tua boa vontade.
- Ah... - Enzo estava confuso com o modo como Pedro falara com ele, mas assentiu - tudo bem então Seu Pedro...mais tarde eu volto pra ver como as coisas estão.
- Bem... - Daniel também tinha ficado confuso com a cena, então disse: - Sendo assim eu vou levar o Enzo na casa dele, depois vou em casa tomar um banho e já volto, tudo bem pai?
- É claro meu filho, eu estarei aqui esperando. Qualquer coisa eu te ligo!
- Então tá! Até daqui a pouco - Daniel levantou, abraçou o pai e continuou falando - Vamos Enzo!
- Vamos...até mais Seu Pedro! - disse Enzo ainda confuso.
- Até - respondeu Pedro distraidamente.

Os dois rapazes percorreram os longos corredores do hospital em direção ao estacionamento e, quando estavam no carro, Enzo disse:

- Amor... - disse ele incerto - Foi impressão minha ou o seu pai praticamente me expulsou de lá?
- Ele foi um pouco grosso mesmo amor - disse Daniel - mas eu acho que ele está estressado e triste com essa situação da mamãe, então dá um desconto pra ele! Ele apreciou que você ficou aqui com a gente, mas acho que agora ele quer mesmo ficar sozinho!
- Sem problemas amor, eu não estou chateado, mas fiquei surpreso com a atitude dele.
- Eu também fiquei, mas enfim...obrigado por ter ficado comigo no hospital e me dado força quando eu já estava perdendo a fé, você é um ótimo namorado e uma pessoa incrível!
- Que nada amor, eu já disse que você sempre pode contar comigo! - Enzo se inclinou em direção a Daniel e eles se beijaram. Depois disso, Daniel seguiu em direção à casa do namorado.

Quando chegou em casa Enzo ainda estava incomodado com o modo como fora tratado no hospital, mas , como ele mesmo dissera, não estava chateado com o ocorrido, apenas não podia deixar de pensar que algo tinha mudado desde que o pai de Daniel deixara o hospital na noite anterior, visto que ele o tratara muito bem ao sair, mas praticamente disse que ele não queria que ele ficasse no hospital quando voltou na manhã seguinte. De qualquer maneira, ele ele ainda estava decidido a ficar ao lado de Daniel enquanto a mãe dele estivesse hospitalizada, independente do modo como pai dele o tratara ou trataria na próxima vez em que ele fosse ao hospital.
Naquele dia, Enzo faltou às aulas da manhã para descansar, mas foi às aulas da tarde, a fim de não perder muito do conteúdo, principalmente agora, quando ele nem poderia contar com Frida para lhe repassar a matéria.
Quando saiu da UFTU, Enzo foi diretamente para o Hospital Ibero-Brasileiro, uma instituição particular que ficava no centro de São Patrício. Ao chegar na ala em que a mãe de Daniel estava internada, ele avistou o rapaz ao lado do pai, o qual parecia estar ainda mais abatido, então, cautelosamente se aproximou deles e disse:

- Boa tarde Daniel...Seu Pedro...
- Oi Enzo, que bom que viestes! - Disse Daniel, no tom mais agradável que ele conseguiu.
- Ah...o que estás fazendo aqui Enzo? - Disse Pedro e então continuou displicentemente - Não é necessário deixar de fazer as suas coisas pra vir ao hospital...
- Bem...eu queria saber como estava a Dona Cássia...mas, se eu for incomodar, eu posso ir embora...
- Pai... - disse Daniel surpreso com a atitude do pai - O Enzo veio com toda bondade visitar a mamãe!
- Sim...está certo meu filho...eu peço desculpas Enzo - Pedro respondeu, ainda distraído - Eu não quis ser grosseiro, apenas quis dizer que eu não quero te incomodar além do necessário...mas eu agradeço a visita, você pode ficar o tempo que quiser.

Nesse momento, a conversa foi interrompida pelo médico responsável por Cássia, que veio dar um boletim sobre o quadro clínico dela. Aparentemente, ela estava consciente, porém, diferente do que Daniel pensara no dia anterior, o quadro clínico dela ainda era instável, o que, visivelmente, abalou tanto o rapaz como o pai. Depois disso, o médico convidou Pedro a ir vê-la e, quando este chegou lá, ele a encontrou acordada, de modo que, ao se aproximar do leito, prontamente, disse:

- Meu amor! Como você está se sentindo? - Disse ele, fracassando em esconder o quanto ele estava abalado com aquela situação.
- Oh, querido...eu... - Cássia inspirou forçosamente e, aparentemente, dolorosamente - eu estou fazendo o meu melhor pra resistir...mas eu quero lhe dizer uma coisa...é sobre o Daniel...sobre o nosso filho...se eu não conseguir...
- Não Cássia! - Pedro segurou a mão dela e disse: - Não...você...você vai sair dessa...os médicos...eles...
- Eu sei...o que os médicos dizem...eu os escutei hoje...meu quadro... - ela, novamente, fez esforço para inspirar e continuou - meu quadro é instável, talvez meu coração não aguente...
- Não... - implorou Pedro.
- Deixe-me continuar - ela apertou a mão dele - cuide bem...cuide dele...ele é a melhor coisa...que aconteceu na minha vida...assim como você! Cuide dele...seja paciente...o ame...
- Eu amo! Ele é resultado do nosso amor, ele é o melhor presente que você poderia ter me dado! Mas você não vai...você não vai morrer Cássia! Fica comigo, por favor!
- Sim...sim, meu amor...eu estou tentando...mas está muito difícil... - ela segurou firme em suas mãos e,  olhando diretamente nos olhos do marido disse: Mas, tem...tem outra coisa...o Daniel...eu acho que ele...tem alguma coisa com o Enzo...
- O que?! - Pedro estava chocado - Você...você sabia meu amor?
- Sim...há algumas semanas eu vi uma mensagem no celular dele...do tipo que alguém apaixonado escreveria...mas...quando eu vi o...o remetente - ela inspirou com muito esforço - o remetente era o Enzo...mas e você, como descobriu...querido?
- Bem...ontem eu os vi se beijando aqui no hospital! Não pude suportar Cássia, esse garoto parecia tão bom, porque ele está desencaminhando o nosso filho dessa maneira? Hoje ele retornou e eu não tive como mandá-lo embora, mas não consigo nem olhar direito pra ele sem sentir nojo!
- Não... - ela inspirou com ainda mais dificuldade - Não...meu amor...esse garoto faz bem ao Daniel...você deveria ver como ele tem estado mais...feliz...ele nunca foi assim...ele está amando...
- Mas Cássia, o Daniel não é....gay - disse ele sussurrando a última palavra - ele não é isso! Ele não vai cair em perdição Cássia, eu não admito isso!
- Ele...é o seu único filho...ame ele...ame ele do jeito....do jeito que ele é...a vida é tão curta... - Nesse momento Cássia começou a chorar e a ter mais dificuldade para respirar.
- Calma meu amor! Calma! Ela não acabou pra você!
- Prometa... prometa que vai amá-lo...mesmo se ele for...se ele for...isso que você disse - a sua voz estava cada vez mais fraca, mas ainda imprimia um tom decidido.
- Tudo bem! Tudo bem meu amor, só...se acalme...tudo bem? Descanse! Eu vou me retirar agora, para que você possa descansar!

Pedro saiu do quarto ainda mais abalado, pois, apesar de ficar feliz pela mulher estar consciente, ele não poderia imaginar que ela já soubesse daquele fato que tanto o impressionara no dia anterior, tampouco esperava que ela aceitasse aquilo de modo tão natural, afinal, eles sempre foram muito observadores dos preceitos bíblicos e, sem dúvida, homossexualismo não é uma forma de comportamento aceitável. Mas em uma coisa a mulher tinha razão, a vida é tão curta e Daniel sempre fora muito um filho exemplar, que ele nem sabia como reagir àquilo que presenciara, por isso tinha decidido pensar nisso depois que a esposa estivesse recuperada.
Quando chegou à sala de espera, Pedro mantinha sua expressão abalada, o que levou o filho a saltar da cadeira e perguntar:

- O que foi pai?! Aconteceu alguma coisa? A mamãe...a mamãe...
- Não, não meu filho - Pedro tentou se concentrar no filho, apesar de inúmeros pensamentos passarem pela sua mente naquele momento - Nada aconteceu, ela continua consciente, embora bastante debilitada.
- Mas e quanto ao que os médicos disseram? Sobre ela estar instável?
- Não se preocupe...bem...pelo que eu entendi, houve hemorragia, que foi controlada a tempo, mas...meu filho, não era pra você saber disso agora, mas...diante das consequências...
- O que pai? Diga!
- Bem...há uns 2 meses a sua mãe descobriu que tem uma doença do coração, inclusive ela estava diminuindo o ritmo de trabalho e dando entrada em uma solicitação de aposentadoria ou remanejamento ocupacional, enfim...a sua mãe teve muita sorte, digamos assim, porque as lesões causadas pelo acidente não foram tão ruins quanto poderiam ser, considerando-se o estado em que ficou o carro...porém, a recuperação está exigindo muito do coração da sua mãe, de modo que, podemos dizer que o acidente piorou essa doença e acelerou a debilidade cardíaca...você entende o que eu quero dizer?
- Sim...acho que sim pai, então o acidente não é totalmente responsável pelo estado da mamãe né? - Daniel pensou um pouco e olhou com tristeza para o pai - Mas por que ninguém me contou?
- Ah meu filho, sua mãe não queria te preocupar, ela comentou que você estava mais feliz esses tempos, que você não estava mais tão fechado e que até falava mais quando vocês conversavam, então ela não queria que isso te abalasse!
- Que bobagem pai, eu me importo mais com a saúde dela, algo assim é muito grave! - disse Daniel indignado - Mas enfim...o importante agora é que eu já sei e que e estou aqui pra dar força a ela na recuperação! Ela falou alguma coisa? Sobre o que você conversaram?
- Ah... - Pedro não quis contar sobre o que conversara com Cássia, pois não queria abalar a fé do filho na recuperação da esposa - Nós conversamos por pouquíssimo tempo, eu perguntei como ela estava e...espera - ele olhou ao redor da sala e, somente agora, percebera que Enzo não estava lá, então, tanto por curiosidade como para mudar de assunto, perguntou: - Cadê o Enzo?
- Ele foi embora pai...bem, ele acha que a presença dele aqui poderia te deixar mais nervoso, então preferiu voltar pra casa... - Daniel falava em um tom bastante calmo e compassado - mas ele deixou votos de melhora pra mamãe!
- Ah sim...bom, não foi minha intenção fazer ele e sentir indesejado - Pedro se sentia mais aliviado em não ter que encarar Enzo, mas também sentiu um pouco de culpa, pelo fato do rapaz realmente estar bem-intencionado e preocupado com Cássia então finalizou dizendo: - Peça desculpas a ele, eu estou estressado com a situação da tua mãe e a presença de alguém que não seja da família aqui me deixou desconfortável.
- Tudo bem pai, o Enzo entende... - Daniel tentou falar da forma mais normal possível, mas Pedro pôde perceber que tinha um pouco de mágoa no tom de voz dele.

Depois disso não houve mais diálogo e os dois permaneceram sentados na sala de espera até que às 22 h Daniel disse que iria pra casa e voltaria no dia seguinte, depois das aulas da manhã a UFTU, visto que ele precisava descansar e se distrair, mesmo que fosse na universidade.
Cerca de 4 h, Cássia teve uma parada cardíaca e foi reanimada, de modo que o seu estado de saúde sofreu um agravo. Pedro avisou o filho do que tinha acontecido, mas pediu que ele continuasse em casa, enquanto ele estava sofrendo sozinho ao ver a mulher definhar no hospital, mas, de fato, ele preferia, naquele momento, se preocupar apenas com o fato de Cássia estar severamente doente e não com o que vinha acontecendo entre o Daniel e Enzo.
No dia seguinte, Daniel compareceu à UFTU, mas estava, visivelmente, muito abatido e quase não conseguia prestar atenção na aula, então pediu ao professor para se retirar, foi até a "Snack" e mandou a seguinte mensagem para Enzo:

" Amor, preciso muito de você! Não estou conseguindo me concentrar em nada da aula.
Estou aqui na "Snack" e queria você me fizesse companhia.
Por favor!"

Quando viu a mensagem, Enzo imediatamente saiu de sala e correu até a lanchonete. Chegando lá, ele encontrou Daniel encostado em um dos assentos, com as mãos bloqueando o rosto, mas ele percebeu que ele estava chorando, então se aproximou  delicadamente e disse:

- Amor?...

Ao ouvir isso, Daniel bruscamente puxou Enzo em sua direção e o abraçou. Os dois passaram vários minutos assim, e, embora a lanchonete estivesse cada vez mais cheia e algumas pessoas os estivessem olhando, Enzo não se importou em ficar abraçado com ele sem dizer qualquer palavra, até que o rapaz, ainda fortemente abraçado a Enzo, sussurrou quase inaudível:

- Minha mãe...
- O que aconteceu? - Perguntou Enzo calmamente.
- Ela... - Daniel se afastou de Enzo para poder olhar diretamente pra ele, esfregou o rosto para enxugar as lágrimas e disse: - Ela tem um problema no coração...
- Do acidente?
- Não, ela descobriu há dois meses...e nunca me contou... - Daniel baixara a cabeça com tristeza, porém, tornou a fitar Enzo e contou o que o seu pai lhe dissera na noite anterior.
- Nossa....eu não sabia...Nesse caso o quadro dela é bem mais delicado quanto eu tinha pensado - Enzo percebeu que Daniel havia baixado novamente a cabeça, então ele segurou o queixo do namorado e ergueu suavemente a cabeça dele até poder olhar em seus olhos, então disse: - Mas ainda assim, nunca devemos perder a fé! Ela é forte!
- Ela teve uma parada cardíaca ontem de madrugada...eu não sei amor...ela estava tão fraca quando eu falei com ela, mas eu pensei que ela fosse melhorar...só que agora a situação é diferente, essa maldita doença está deixando ela ainda mais fraca...

Neste momento, o celular de Daniel tocou  e, quando ele atendeu, a sua expressão se tornou ainda mais abatida e o seu rosto adquiriu um tom ainda mais pálido. Ao desligar, ele disse a Enzo, enquanto se levantava do assento:

- Ela teve outra parada cardíaca! Vamos pro hospital!
- Nós dois? - disse Enzo também se levantando - Mas será que é uma boa ideia? Ainda acho que o seu pai não me quer lá...
- Não me deixa ir sozinho, por favor! - chorou Daniel.
- Tudo bem - disse Enzo em um tom calmo - Vamos! E...seja o que Deus quiser!

Assim, os dois partiram em direção ao Hospital Ibero-Brasileiro. Daniel estava agitado e preocupado em chegar o mais breve possível, rezando que a mãe pudesse suportar até que ele chegasse lá. Enzo, por sua vez, também estava preocupado com Cássia, principalmente depois do que Daniel havia lhe contado, mas também estava receoso de ter que encarar Pedro novamente, quando este expressara de forma tão evidente a sua aversão à presença do rapaz no hospital, porém, mais uma vez ele estava se atendo à sua promessa feita a Daniel de ficar sempre ao lado dele.
A primeira ação de Daniel ao chegar na sala de espera foi correr até o pai e o abraçar o mais forte possível, enquanto Enzo, convenientemente, se manteve mais afastado, já que o namorado não estava precisando dele por enquanto e ele preferia se manter o mais longe possível dos olhos de Pedro. Várias horas se passaram, durante as quais pai e filho conversavam sobre as reviravoltas no quadro clínico de Cássia e aguardavam novas atualizações do médico, na medida em que Enzo continuava sentado em um local afastado dos dois, também aguardando novidades e pronto para confortar Daniel caso o pior acontecesse.
Aproximadamente, às três da tarde um médico veio, muito solenemente, informar que a equipe de profissionais fizeram o melhor para reanimar Cássia, porém  o coração dela não resistira e ela havia morrido. Evidentemente, aquele fato teve um efeito devastador tanto em Pedro como em Daniel, que ao receber a noticia entrou em choque e desmaiou na sala de espera, de modo que fora levado para um quarto para ser examinado. Enzo por sua vez ficou, a principio, sem reação, porém, ao ver o namorado cair no chão e ser levado pelos enfermeiros, resolveu que seria melhor acompanhá-lo, deixando assim Pedro sozinho na sala de espera. Entretanto, passados alguns minutos em que ele desabou em um choro incontrolável, chegou um sujeito que se identificou como enfermeiro e lhe disse:


- Com licença...o senhor se chama Pedro Henrique de Souza Galvão? Marido de Cássia Helena Santos Galvão?
- Sim... - Pedro enxugou as lágrimas e ergueu a cabeça para fitar o homem - Por que?

- Bem, senhor...eu não sei se essa é a melhor hora...mas eu me chamo João e sou o enfermeiro que estava cuidando da sua mulher antes dela ter a parada cardíaca, e...bom...ela, com muito esforço, me pediu que lhe entregasse essa mensagem que eu transcrevi - o homem estendeu um pedaço de papel para Pedro, tocou no braço dele e então disse: - Eu lamento muito a sua perda! - depois disso se retirou.

O papel que João, o enfermeiro, entregou a Pedro continha as seguintes palavras:

"Eu amo a minha família, por isso quero que ela esteja sempre unida.
Pedro, ame o nosso filho como ama a mim.
Esteja sempre ao lado dele, não importa o que aconteça.
Se eu não estiver mais aqui lembre sempre que eu amo vocês"

A carta foi breve mas teve um efeito ainda mais devastador sobre Pedro, que se jogou quase inerte na cadeira em que estava e fechou os olhos, ainda chorando. Porém, alguns segundos depois ele se recompôs, se levantou da cadeira e foi providenciar as ações legais para liberação do corpo e preparação do funeral e enterro da mulher. Depois de arranjar tudo, ele se dirigiu para o quarto em que o filho estava.
Enquanto Pedro estivera dedicando o seu tempo à preparação do funeral e enterro, Enzo estava ao lado de Daniel, que foi reanimado logo depois do desmaio, mas permanecia em observação, o que deu aos dois algum tempo para conversar sem a presença do pai de Daniel, embora o rapaz tenha chorado na maior parte dele. Quando Enzo percebeu que o namorado já estava mais controlado, tentou iniciar um diálogo:

- Amor, eu lamento muito que isso tenha acontecido...

Porém, Daniel não conseguiu verbalizar qualquer coisa, apenas segurou mais forte a mão de Enzo, que se resignou a acariciar os cabelos do namorado e permanecer de mãos dadas com ele, sem qualquer outra tentativa de diálogo. Alguns minutos depois, Pedro irrompeu pela porta do quarto e, apesar de ter fingido que não, viu os rapazes de mãos dadas, os quais rapidamente assumiram outras posições, na esperança de não terem sido flagrados. O que de fato ocorrera!
Diante da chegada de Pedro e avaliando a situação de quase flagrante em que se encontravam, Enzo, sem se atrever a olhar o pai do namorado nos olhos, disse:

- Oi seu Pedro, eu estava fazendo companhia ao Daniel...mas agora que o senhor chegou...eu imagino que vocês tem muito o que conversar. Então eu vou pra casa!
- Ah sim...eu agradeço Enzo - disse Pedro em um tom formal.
- Bom, então tá...me liga se precisar de mais alguma coisa Daniel...e...até mais seu Pedro...
- Tudo bem Enzo, eu ligo... - Disse Daniel, de cabeça baixa, sem fixar os olhos no pai ou no namorado.

Assim, Enzo deixou o hospital com um sensação estranha no estômago e ele sentia que algo entre ele e Pedro havia mudado, mas não sabia como isso iria influenciar o seu relacionamento. Alheio a isso, Daniel permaneceu no quarto com o pai, que prontamente lhe dissera:

- Meu filho...eu não sei o que vai ser da minha vida agora! - o homem abraçou o filho.
- Eu também estou perdido pai...a mamãe era o nosso pilar e agora... - Daniel soluçou - Agora ela se foi...pra sempre...
- Ela te amava muito meu filho - Pedro segurou as duas mãos de Daniel e olhava fixamente para ele - nunca se esqueça disso! Nunca se esqueça que você foi a maior realização da vida dela!
- Espero que sim pai...talvez eu não fosse exatamente o que ela queria... - Daniel estava pensando se a mãe aprovaria o seu relacionamento com Enzo, afinal, ela fora a pessoa que mais lhe reprimira por causa do ocorrido na sua infância, porém, mudou de assunto: -  Mas e agora pai? E o velório? Enterro?
- Não se preocupe com nada disso filho! Eu já resolvi tudo! Bom, por falar nisso, eu não vou poder ficar aqui com você, porque eu preciso ir em casa, trocar de roupa e finalizar os preparativos para o velório! Você entende filho?
- Claro pai! Eles não devem demorar a me liberar, mas você pode ir na frente e, assim que me dispensarem da observação, eu corro para casa.
- Muito bem, sendo assim eu te aguardo lá meu filho! - Pedro beijou o topo da cabeça de Daniel e se retirou do quarto.

Realmente, não demorou muito até que os médicos dispensassem Daniel e ele estivesse livre para ir pra casa. Chegando lá, o rapaz foi direto para o quarto, tirou as roupas que usava, atirando-as em um canto do quarto, e se dirigiu para o banheiro. Durante o banho, e mesmo depois quando vestiu roupas limpas e se deitou para descansar, Daniel se sentia emocionalmente anestesiado, pois ele não chorava mais, mas também estava realizando todas as coisas de modo automático e sem empenho.
Quando o corpo de Cássia chegou para ser velado, Daniel desceu e encontrou várias pessoas que, com certeza, haviam chegado enquanto ele estava deitado, sendo que, entre elas, estavam Enzo e os pais, Roberto e Maria, que vieram falar com ele logo que o viram:

- Daniel, meu querido - disse Maria em tom calmo - eu sinto muito pela sua mãe! Eu não imaginava que ela estava tão mal, se não a teria ido visitar no hospital!
- Eu também sinto muito meu filho - completou Roberto - pode contar com o nosso apoio no que precisar tá?!
- Muito obrigado seu Roberto e Dona Maria! - disse Daniel - Agradeço por terem vindo, vocês são como da família pra mim, então fiquem a vontade!
- Posso falar com você um instante? - Indagou Enzo.
- Pode ser depois do enterro? Eu tenho que ajudar o meu pai a receber as pessoas que compareceram ao velório...
- Tudo bem...

Daniel não conseguia parar de pensar em algo que lhe ocorreu enquanto ele estava no hospital: ele nunca tivera a chance contar à mãe sobre Enzo e agora se sentia um pouco culpado, como se ele a tivesse enganado, até mesmo em seu leito de morte, quando se referiu a Enzo como se fosse apenas um amigo e, agora, não haveria mais tal oportunidade. Isso o fazia se sentir estranho quando pensava em Enzo no velório da sua mãe, como se ele pudesse escandaliza-la, mesmo depois de morta e isso o deixava desconfortável quanto ao namorado, por isso, decidiu que naquele momento iria de dedicar inteiramente a velar a mãe e confortar o pai. Assim, depois de cumprimentar as pessoas que compareceram ao velório, Daniel se dirigiu ao caixão,  tocou a mão esquerda da mãe e, olhando em seus olhos, agora eternamente cerrados, o rapaz falou em pensamento: - Mãe...eu espero que encontres a paz aonde quer que você tenha ido. Espero que  paraíso seja  melhor do que a vida que você teve ao nosso lado e, apesar de ficar desvastado pela sua ausência, eu acredito que tudo tem um propósito e talvez você tivesse que partir para seu próprio bem. Eu não sei se fiz tudo o que deveria como um filho, mas eu fiz o meu melhor! Quero ainda me desculpar por nunca ter te contado sobre o Enzo e espero que, de onde estás, entendas que eu o amo e que espero que me perdoe por ter mentido sobre ele. Ele não é meu amigo...é meu grande amor! Mas agora, pra honrar a sua memória eu prometo que vou abdicar disso, assim não me sentirei tão culpado por ter omitido a verdade! Mãe...eu vou achar uma boa moça, como a senhora sempre quis!
Algumas horas transcorreram, enquanto várias pessoas iam e vinham para dar os votos de pesar a Daniel e Pedro, bem como velar Cássia. No outro dia, às sete da manhã, a mãe de Daniel foi enterrada, sendo que, novamente, a família de Enzo estava presente e, enquanto os pais do rapaz conversavam com Pedro, ele se dirigiu a Daniel, que estava afastado dos demais, admirando a sepultura de Cássia:

- Oi amor...como é que você está se sentindo?
- Oi... - Daniel falou com Enzo sem tirar os olhos da sepultura e/ou se virar para o namorado - Na verdade eu não consigo sentir nada desde ontem...não tenho vontade de chorar e nem de fazer mais nada...acho que até vou trancar a faculdade...
- Amor... - Enzo falou em tom agudo - você não pode se deixar abater dessa maneira - então o rapaz fez menção de tocar no ombro de Daniel, que imediatamente se afastou.
- Tem mais uma coisa - agora Daniel tinha os olhos fixos em Enzo - Eu quero terminar com você!
- O que? - Enzo estava boquiaberto e confuso - Mas...por que? Isso é algum tipo de brincadeira?
- Não - Daniel estava decidido - Eu não quero mais namorar com você! Eu sinto muito...acho que nós precisamos nos afastar...
- Amor...eu... - lágrimas rolaram pela face de Enzo - eu não estou entendendo o porquê disso!
- Você não precisa entender...apenas aceite que está acabado - Dito isso, Daniel se virou e caminhou na direção em que seu pai estava conversando com a família de Enzo. Quando chegou onde eles estavam disse: - Pai, acho que já podemos ir, certo? Bom dia seu João e Dona Maria!
- Claro filho - respondeu Pedro e então se dirigiu ao casal com quem conversava: - Bem, obrigado por terem vindo!
- Não há de que! - respondeu Maria.
- O Enzo não estava contigo Daniel? - Indagou Roberto.
- Ah...sim - respondeu Daniel - Ele já está vindo - depois saiu caminhando na companhia do pai.

Minutos depois, Enzo se junto aos pais, que percebendo a vermelhidão em seu nariz e seus olhos, perguntaram:

- Aconteceu alguma coisa Enzo?
- O Daniel...ele terminou comigo...

Naquele dia, houveram duas causas para luto: a morte de Cássia e o, aparente, fim do namoro de Enzo e Daniel, sendo que este ultimo fato ocorrera pelo fato de Daniel estar alheio à verdadeira opinião da mãe sobre o seu relacionamento com Enzo, um mal-entendido que só poderia ser desfeito por Pedro, o qual, desde o inicio se mostrara contrário àquela relação. Assim, muitos fatores culminam para que os rapazes fiquem juntos ou não, mas a principal questão é: Será que a vontade de Cássia de que o marido amasse o filho mesmo ele sendo homossexual prevaleceria para que ele desfizesse o mal-entendido de Daniel?


Uma semana e meia se passou sem que Enzo conseguisse ter qualquer notícia sobre Daniel. O rapaz mandou inúmeras mensagens, ligou diversas vezes e procurou pelo (ex) namorado todos os dias no Instituto de Ciências Jurídicas da UFTU, sem obter qualquer progresso em sua busca por entrar em contato com ele.
Porém, para sua surpresa, em uma manhã, enquanto chegava à universidade, ele avistou Daniel adentrando os portões da universidade, o que fez as suas pernas, assim como o seu coração, dispararem. Ao alcançar o rapaz, bem no meio do pátio central, disse resfolegadamente:

- Daniel! - Enzo tocou no ombro do rapaz, que se se virou rapidamente.
- Ah...Oi Enzo... - ele respondeu desanimadamente - O que você quer?
- Oi? O que eu quero? - Enzo subiu o tom de voz - Ficou louco? Por que não me avisou como estava? Eu fiquei preocupado durante mais de uma semana!
- Ora, eu não acho que devesse! - disse Daniel com firmeza e em tom calmo - Eu acho que fui claro no cemitério, eu não sou mais seu namorado, então não acho que devesse se preocupar comigo tanto assim!
- Ah... - Enzo ficou momentaneamente boquiaberto - Então você realmente não mudou de ideia?
- Claro que não! Por que deveria?
- Eu achei que estivesse confuso pelo que...você sabe...aconteceu...
- Não se preocupe Enzo, pode falar que a minha mãe morreu! Está tudo bem...eu estou bem agora - Daniel parou por alguns segundos, suspirou e continuou: - Olha Enzo, se é só isso, eu preciso ir pra aula...eu perdi muita matéria sabe? Então, de novo, não se preocupa tanto assim comigo, tudo bem? Não é mais do teu interesse!
- Não é mais do meu interesse? - Enzo adquiriu uma expressão de ódio e socou o peito de Daniel com ambas as mãos - VOCÊ NÃO TEM O DIREITO DE ME TRATAR ASSIM! EU NÃO SEI O QUE ACONTECEU, MAS EU NÃO TENHO CULPA! - ele continuou a socar o peito do rapaz - SE VOCÊ NÃO ME QUER COMO NAMORADO, PELO MENOS SAIBA QUE PRA MIM A AMIZADE INCLUI FICAR PREOCUPADO COM ALGUÉM QUE SE GOSTA!
- Enzo... - Daniel, finalmente, perdera o ar tranquilo e parecia bastante preocupado.
- Quer saber Daniel...que seja...você não merece nem a minha amizade! Não se termina com alguém desse jeito e ninguém merece ser tratado assim...tão...tão indiferente! - Enzo saiu em disparada pelo corredor, lotado de pessoas, que, naquela altura da conversa, já estavam todas olhando para eles.

Dois dias depois, outra cena deixou Enzo em ânimo ainda pior do que aquela ocorrida no pátio central da UFTU: Quando chegou próximo da sua sala de aula, avistou Daniel beijando Frida e nem se deu ao trabalho de continuar caminhando. Simplesmente saiu correndo pelos corredores, esbarrando em várias pessoas e sem um real destino em sua mente. Apenas queria que aquela cena fosse uma ilusão, mas ele sabia que não era, o que denotava que Frida se aproveitara daquele momento crítico no relacionamento dos dois para se reaproximar de Daniel e, pelo visto, para voltar a se relacionar com ele. Quando percebeu, estava próximo da "Snack", então se sentou em um dos bancos do local e chorou, até que uma mão pousou em seu ombro e o fez se virar em sobressalto. Quando visualizou a pessoa, ele disse:

- Oi Pietro... - Enzo ainda estava com os olhos úmidos.
- Posso sentar? - Indagou Pietro.
- Ah...eu não sei Pietro...eu não estou bem hoje sabe?!
- Eu sei...eu vi o que aconteceu outro dia no pátio! Mas não consegui te encontrar depois daquilo. Se quiser conversar eu estou aqui, mas, se realmente quiser que eu vá embora, eu entenderei...
- Não, pode sentar - Enzo aparentava estar mais calmo - Mas eu não quero falar daquilo...só me fala sobre as novidades...a gente não se vê faz tempo...deve ter alguma, certo?
- Claro...tenho várias!

Os dois passaram muito tempo conversando na lanchonete sobre trivialidades, até que Pietro perguntou:

- Tem certeza que não que falar sobre o acontecido? As vezes ajuda...
- Pietro, eu não sei bem o que aconteceu na verdade...mas se estiveres mesmo afim de ouvir...
- Claro que estou, me conta!

Enzo contou ao rapaz, de modo resumido, os acontecimento entre a internação da mãe de Daniel até o dia em que eles discutiram no pátio da universidade. Depois de escutar tudo atentamente Pietro fez a seguinte consideração:

- Bom...realmente não faz sentido! Fostes muito companheiro durante todo o período em que ela permaneceu internada e esteve sempre ao lado do Daniel...então...por que ele iria querer terminar contigo? Eu nunca iria fazer isso!
- Bem, eu não sei - Enzo estava levemente corado.
- Ah, eu digo de modo hipotético é claro! - Pietro se apressou em dizer a Enzo quando percebeu o constrangimento do outro.
- Bom, não importa mais...pelo que eu vi naquele dia no pátio, ele não quer mesmo mais nada comigo, então...cabeça pra frente, certo? - Enzo tentou, mas não conseguiu conter o choro.
- Eu sei que nós mal nos conhecemos - disse Pietro - Mas eu gosto de ti...como um bom amigo eu quero dizer...portanto, pode contar comigo para o que precisar - O rapaz bateu de leve no ombro de Enzo e permaneceu ao seu lado, sem dizer qualquer palavra.

Enquanto isso, Daniel foi buscar Frida depois que a aula dela tinha terminado. Ao chegar na porta da sala, a encontrou o esperando ansiosamente, então disse:

- E aí, como foi a aula?
- Normal! - disse Frida radiante - Eu quase nem prestei atenção! Só queria que terminasse pra poder te ver!
- Ah...que bom! Também estava...er...ansioso pra te ver! - O rapaz parou e olhou para o interior da sala, então indagou: - E o Enzo, não veio hoje?
- O Lucas disse que viu ele entrando na UFTU de manhã, mas ele não apareceu na aula! Deve estar atacando alguém por aí...sabe como são esses gays! Mas não vamos falar dele, ou será que você mudou de ideia e quer voltar a "ficar" com ele?
- Ah, não! É só curiosidade mesmo! - disse Daniel rapidamente - Mas, pra onde vamos agora? Quer almoçar comigo?
- Claro! Eu adoraria!
- Tudo bem, então vamos até o estacionamento pegar o carro e depois iremos pra minha casa.

Neste mesmo instante, Enzo tinha se recomposto e disse a Pietro:

- Pietro...não tinhas aula agora?
- Ah...bem...eu tinha - disse o rapaz encabulado - Mas não se preocupa com isso, eu pego a matéria com alguém depois!
- Não Pietro! Era pra teres ido! Não se preocupa comigo, eu vou ficar bem!
- Eu não podia te deixar aqui naquele estado! E eu já disse, relaxa!
- Bem, de qualquer modo, obrigado! Eu estou muito melhor agora! Mas eu preciso ir embora, não quero ouvir aquele ridícula da Frida se vangloriando hoje! Ou eu juro que vou dar um soco na cara dela!
- Nossa! - Pietro riu - Eu nunca quero te ver zangado comigo!
- Não vais querer mesmo! - Enzo também riu - Bem, eu vou até a parada de ônibus. E quanto a ti? vais ficar por aqui?
- Ah, não! Eu moro perto daqui, então vou almoçar em casa, mas vou pegar um ônibus também!
- Bom, então podemos ir juntos.

Os dois saíram caminhando em direção à saída da universidade, conversando sobre outros assuntos e alheios ao fato de que, enquanto caminhavam pela frente da UFTU em direção à parada de ônibus, estavam sendo observados por Daniel e Frida, a qual exclamou:

- Não disse que ele estava caçando alguém!
- É... - Disse Daniel distraidamente - Bom, eu não tenho nada com isso mais!
- Com certeza não! Você fez muito bem em ter me ligado! Eu sou a pessoa certa pra você e não aquele pobretão que te levou pra um mau caminho. Tenho certeza que a sua mãe me aprovaria como nora!
- Frida, a gente pode não falar da minha mãe?
- Ah, claro...claro...eu sinto muito!
- Tudo bem!

No dia seguinte, Enzo caminhava da parada de ônibus até a entrada da universidade, quando encontrou Pietro, que vinha correndo ao seu encontro:

- Bom dia Enzo! Como estás hoje?
- Bem Pietro! - Disse Enzo sorrindo - Obrigado por perguntar!
- Olha, eu queria te fazer um convite...não sei se vais querer mas estou convidando assim mesmo! Uma amiga vai dar uma festa de aniversário hoje a noite e eu queria te convidar pra vir comigo!
- Pietro, eu agradeço o convite mas...não sei...eu não estou bem no clima...e eu também nem ao menos a conheço!
- Não tem problema! Ela é muito legal e acho que não vai se importar! Na verdade eu ia pedir isso a ela hoje, então...só pensa nisso tá?! Depois me responde!
- Humm...Tudo bem, eu vou pensar! - disse Enzo com um sorriso amistoso - Mas agora eu realmente preciso ir! Estou atrasado pra aula!
- Ah, claro! Eu também estou! Nos vemos na "Snack" depois então!
- Pode ser! - Finalizou Enzo.

Quando entrou na sala de aula, Enzo percebeu que não haviam muitas pessoas e que o professor ainda não havia chegado. Ao indagar sobre isso a uma colega, esta lhe informou de que o professor chegaria atrasado, então caminhou até o fim da sala e se sentou em uma carteira vazia. Segundos depois, Frida caminhou até ele e disse:

- Oi querido! Como está esse bumbum? Muito dolorido do pé na bunda que você levou?
- O que queres Frida?
- Só quero dizer como eu e o Daniel estamos felizes juntos novamente! Acho que a sua tentativa de nos separar e levar ele para "o outro lado" não deu muito certo né? Deves ser muito ruim como namorado mesmo!
- Frida, me faz um favor? - Enzo olhou fixamente pra ela - Sai de perto de mim e finge que eu não existo! - Então ele se levantou e continuou falando: - Estás feliz porque o Daniel voltou pra ti? Parabéns! Espero que vocês passem toda a eternidade juntos! Aí vais enxergar que apesar de lindo, gentil, meigo e, extremamente, atraente, ele é uma bomba nuclear que explode com a menor pressão! - Ele foi elevando tom de voz gradativamente - Quando isso acontecer, espero que ele te dê um pé na bunda assim como fez comigo! Ou melhor, que ele fique para sempre ao teu lado até não aguentares mais nem olhar para cara dele! - Nesse momento, todos na sala estavam em silêncio e de olhos atentos nos dois - Agora, para de ser ridícula e sai daqui, faça-me este favor!

Depois disso, as pessoas na sala irromperam em vivas e aplausos, assim como gritos de aprovação, os quais deixaram Frida tão vermelha quanto um tomate e a fizeram sair correndo da sala. Ao mesmo tempo, o professor entrou na sala e os estudantes, exceto Frida, sentaram-se para assistir à aula. Enzo se sentia um pouco envergonhado por ter se excedido daquela forma, mas, ao mesmo tempo, estava aliviado em ter dito aquelas coisas para Frida e ter feito ela se calar.
Quando a aula terminou, Enzo, que estava mais leve, caminhou até a "Snack", a fim de de encontrar com Pietro, como haviam combinado mais cedo. Ao chegar lá, o rapaz comprou algo para lanchar e esperou alguns minutos antes que o seu amigo chegasse esbaforido e falasse:

- Desculpa a demora Enzo! Esperastes muito?
- Calma Pietro! Sentai aí primeiro - disse Enzo fazendo sinal com as mãos para que Pietro sentasse - Eu cheguei faz pouco tempo!
- O professor levou a aula até mais tarde e o assunto vai cair na prova, então tive que esperar até terminar! - Pietro ainda estava recuperando o fôlego - vim correndo por achar que pudesses estar esperando há muito tempo!
- Já disse que acabei de chegar - disse Enzo rindo - Não tem problema!
- Olha isso, um sorriso! - ressaltou Pietro - Estás bem melhor se comparado a como eu te encontrei ontem!
- De fato, eu com certeza estou bem melhor Pietro! - Respondeu Enzo.
- Que bom! Mas algum motivo especial?
- Ah tem! Quer ouvir sobre a minha aula da manhã? - disse Enzo com um sorrisinho irrompendo no rosto.

Depois de ouvir atentamente sobre a discussão entre Enzo e Frida, Pietro mal conseguia disfarçar a surpresa e tampouco segurar o riso, então disse:

- Dissestes mesmo isso pra ela?
- Claro! - Disse Enzo com firmeza - alguém tem que mostrar para aquela garota que nem todo mundo quer saber sobre o que acontece com ela!
- Nossa! - Pietro ainda ria bastante - Arrasastes com ela!
- Bem...a turma ajudou! - disse Enzo, também rindo.
- É verdade! Mas, mudando de assunto, e sobre o convite que eu te fiz hoje?
- Ah, sobre isso...eu aceito! - Enzo tinha um sorriso sincero no rosto - E desde já agradeço! Eu não devo deixar de me divertir por causa de alguém que está me fazendo tanto mal! Mas, a tua amiga confirmou se eu posso ir mesmo?
- Claro, ela disse que adoraria que fosses! Bem...na verdade ela pensa que a gente tem alguma coisa... - Pietro corou levemente - Eu disse a ela que somos apenas amigos, mas mesmo assim ela insiste em pensar isso...mas enfim...o importante é que ela disse que está tudo bem se fores!
- Ah...bem...que bom então - Enzo também estava corado e sem jeito.

Os dois permaneceram algum tempo sem saber o que dizer, então o silêncio foi quebrado quando Enzo disse:

- Bem, nesse caso, eu tenho que ir escolher uma roupa legal e comprar um presente! Ainda bem que hoje eu não tenho aula à tarde!
- Eu tenho, então terei que ficar aqui até mais tarde. Depois vou em casa trocar de roupa. Se quiseres posso ir te buscar, o que achas?
- Você tem carro?
- Ah...bem, não...é de um tio meu...ele vai me emprestar!
- Ah ta! - Respondeu Enzo - Queres que eu fique aqui contigo até a hora de ires pra aula?
- Seria legal! Podemos conversar mais! - Disse Pietro prontamente.

Às duas da tarde, Pietro foi para a aula da tarde e Enzo foi até o shopping comprar um presente para a amiga do rapaz, cujo nome ele percebeu que não sabia e tampouco conhecia as suas preferências, então comprou uma pulseira, a qual ele pensou ser o presente mais provável de não errar.
Antes de se despedirem, os rapazes trocaram números de celular, a fim de se comunicarem quando Pietro fosse buscar Enzo. Então, às nove da noite, Pietro, que estava sendo guiado por Enzo sobre o endereço de sua casa, finalmente chegou e os dois partiram em direção ao aniversário.
Ao chegarem na festa, que ocorria em um enorme salão alugado pela aniversariante, Enzo cumprimentou e entregou o presente à amiga de Pietro que adorou a pulseira e não parava de mencionar como os dois rapazes formavam um lindo casal, o que constrangeu a ambos. Depois que a garota foi embora, Pietro se apressou em dizer:

- Eu juro que não incentivei ela a pensar essas coisas!
- Relaxa Pietro - disse Enzo rindo - Eu achei engraçado e, na verdade, adorei a tua amiga! Além do mais nós sabemos que isso não é verdade certo?
- Certo! - disse Pietro aliviado - Vem, vamos procurar alguns lugares pra sentar!

Os dois caminharam até encontrar um lugar vazio no enorme salão, então, quando sentaram, Enzo disse:

- Eu vou buscar um refrigerante! Podes guardar meu lugar?
- Claro! Mas não demora tá? Lugares em festas são coisas muito preciosas - disse Pietro rindo.
- Tudo bem, eu já volto - respondeu Enzo.

Quando voltava para o seu lugar, depois de ter pego os refrigerantes, Enzo teve uma surpresa: as pessoas que ele menos esperava e/ou queria encontrar naquela festa, Frida e Daniel, estavam acabando de adentrar o salão. O rapaz não sabia o que fazer, então se apressou em caminhar mais rapidamente e acabou esbarrando em algumas pessoas, o que chamou a atenção de Daniel, que avistou o rapaz, enquanto Frida conversava com a aniversariante, que, aparentemente, era sua amiga.
A partir daquele momento, Daniel passou a observar o lugar em busca de ver Enzo novamente, enquanto, em contrapartida, Enzo estava alerta para não ser notado pelo ex-namorado enquanto conversava com Pietro nos lugares em que haviam sentado anteriormente. Porém, Pietro percebeu a tensão de Enzo e indagou:

- Enzo...aconteceu alguma coisa? Estás te sentindo mal? Queres ir embora?
- Não...quer dizer...sim, aconteceu! - disse Enzo incerto.
- O que foi? Me conta! - Pediu Pietro.
- O Daniel está aqui! - Enzo disse isso tão rápido e baixo quanto conseguiu.
- Ele está te seguindo? Mas como ele sabia que estarias aqui?
- Não! Ele veio com a Frida...eu não sei, eu acho que ela conhece a Vitória (a aniversariante).
- Ah sim, pode ser isso! Mas...queres ir embora? Eu posso te levar pra casa, sem problemas! Ou, sei lá, podemos ir pra outro lugar, eu sei que a Vitória vai entender!
- Bem...eu não sei, se eu sair e a Frida souber disso ela vai espalhar pra todo mundo que eu tenho medo dela ou que eu não consigo aguentar o fato dela estar com o Daniel! - Enzo estava confuso e agitado - Mas, tudo bem, deixa só eu ir ao banheiro e nós vamos pra outro lugar! - disse ele decidido.
- Tá certo, mas pra onde queres ir?
- Barzinho, boate, tanto faz Pietro! Só me tira daqui!
- Tudo bem! Vai lá ao banheiro que eu te espero aqui.

Quando se levantou e caminhou em direção ao banheiro, ele foi avistado por Daniel, que prontamente se levantou e disse a Frida, a qual estava alheia à presença de Enzo na festa, que iria ao banheiro também. Quando o rapaz chegou no local, encontrou Enzo lavando as mãos e o rosto. Quando este o viu, ficou tão surpreso e nervoso que não conseguiu ter qualquer reação. Então, Daniel teve a iniciativa de dizer, enquanto caminhava em direção a Enzo:

- Oi...acho que precisamos conversar.
- Não - Enzo se afastava na medida em que Daniel se aproximava dele - eu não quero conversar com você!
- Mas eu acho que as coisas ficaram muito ruins entre nós! Eu não queria que fosse assim Enzo! - Daniel continuava avançando em direção a Enzo.
- Não parece! Na verdade, parece que você não precisa, absolutamente, de mim na sua vida! - Enzo se trancou em um box - Vai embora!
- Não é verdade...eu tenho saudades de você! Eu estava confuso naquele dia no pátio, eu não sabia o que dizer e acabei falando besteira! - Daniel batia de leve na porta do box onde Enzo estava - Vamos conversar! Eu quero esclarecer as coisas!
- Nós não temos nada pra conversar! - Enzo começou a chorar - Apenas vai embora!
- Não Enzo...abre a porta! Conversa comigo!
- Eu já disse que não quero! VAI EMBORA! - Enzo estava enfurecido e ainda chorava.
- Tudo bem, eu vou embora...

Quando o banheiro ficou em silêncio, Enzo abriu a porta do box e caminhou em direção à pia, para lavar o rosto, ainda molhado pelas lágrimas, porém, antes que fizesse isso, Daniel apareceu, vindo de outro box e o segurou pelo punho, dizendo:

- Enzo, nós precisamos conversar!
- Me solta - Enzo não ofereceu resistência, apenas chorou e implorou - Para de me fazer sofrer, eu quero ficar em paz! Se você prefere a Frida, tudo bem! Mas, por favor, para de me fazer sofrer, porque eu já não aguento mais ter que chorar!
- Enzo... - Daniel solto o braço dele, porém pôs a mão em seu rosto e o levantou para olhá-lo. Ao ver as lágrimas em seu rosto, Daniel não conseguiu se conter, abraçou o ex-namorado, que parecia tão frágil naquele momento, e depois o beijou. Porém, segundos depois, como que se arrependendo do impulso, soltou Enzo e exclamou: - Não! Não era isso que eu queria! Isso não pode acontecer!
- Daniel - disse Enzo ainda com os olhos vermelhos - O que você quer afinal? Por que veio falar comigo se não me queres?
- Eu...eu só queria dizer que eu gosto de ti e que quero que fiques bem, mas nós não podemos ficar juntos! Isso não pode mais acontecer!
- Certo... - Enzo enxugou as lágrimas com um papel-toalha e, virando-se para Daniel, disse com muita firmeza: - Então me faz um favor, vai embora da minha vida e nunca mais volta! Simples assim! Quer me ver ficar bem? Me deixa viver a minha vida e apagar todo e qualquer rastro da tua existência nela! Isso vai me fazer tão feliz quanto eu jamais poderia sonhar! Tudo bem assim?
- Claro... - Disse Daniel calmamente, com a cabeça abaixada - Claro, eu posso fazer isso! - Então caminhou para a porta.
- Espera - Disse Enzo o impedindo de sair - Só mais uma coisa: por que? Me explica o porquê! Eu preciso saber!
- Você só não é a pessoa certa! Eu não posso ficar com você! Minha mãe não aprovaria! - Dito isso Daniel virou as costas e saiu.
- Sua mãe?! Espera! - Enzo pediu, porém Daniel já tinha ido embora.

Enquanto caminhava de volta a seu lugar, Daniel se perguntava se estava fazendo a coisa certa, já que ele estava com alguém que a sua falecida mãe aprovaria e estava honrando a sua memória, porém ao alto custo de perder Enzo, primeiro como namorado e agora como amigo, já que o rapaz o odiava por ter partido o seu coração, o que, bem no fundo, ele podia entender.
Enzo, por sua vez, estava devastado por ter perdido Daniel. Entretanto, o rapaz se questionava se aquilo poderia ser o fim de uma guerra que ele jamais poderia ter vencido, já que ele e Daniel tinham passado por tantas batalhas e continuado juntos, somente para terminarem separados. Assim, será que ele deveria retirar as tropas de campo até que estivessem fortes o suficiente para outra batalha ou deveria simplesmente aceitar que aquela era uma guerra perdida? Aquilo era o meio de uma guerra ou um fim que indica um novo começo?
Essas perguntas invadiram a cabeça de Enzo, que permaneceu no banheiro tentando se recompor e pensando se ele havia ganho a liberdade para seguir sua vida ou tinha perdido a batalha para manter o seu grande amor.

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10 comentários:

  1. Um arraso, espero sinceramente que a mãe do Daniel não morra, se não será triste demais.

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    1. 😭😭😭😭😭😭😭 mais ela já morreu você​ não sabia , e não deixou falou pro Daniel que ela aprova o namoro dele dois

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  2. Não acredito que ela morreu :\
    e não acredito que o daniel fez isso!
    Quero matar ele agora >:(

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  3. Poxa uma historia tao linda acabou assim. Me sinto como o Enzo.

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  4. acaba de escrever esta fazendo falta

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  5. ESTOU ANSIOSO PARA SABER O FINAL

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